terça-feira, julho 21, 2009

A dignidade da arte

Eu escrevo para os que não podem me ler. Os de baixo, os que esperam há séculos na fila da história, não sabem ler ou não tem com o quê. Quando chega o desânimo, me faz bem recordar uma lição de dignidade da arte que recebi há anos, num teatro de Assis, na Itália. Helena e eu tínhamos ido ver um espetáculo de pantomima, e não havia ninguém. Ela e eu éramos os únicos espectadores. Quando a luz se apagou, juntaram-se a nós o lanterninha e a mulher da bilheteria. E, no entanto, os atores, mais numerosos que o público, trabalharam naquela noite como se estivessem vivendo a glória de uma estréia com lotação esgotada. Fizeram sua tarefa entregando-se inteiros, com tudo, com alma e vida; e foi uma maravilha. Nossos aplausos ressoaram na solidão da sala. Nós aplaudimos até esfolar as mãos.

(Eduardo Galeano, O Livro dos Abraços)

--

Dobradinha do Eduardo Galeano hoje. Vem deste livro maravilhoso dele, que eu estava folheando no final de semana. O sistema/1, mais pessimista, a dignidade da arte, mais otimista quanto ao homem. Acho que vale a pena conhecer os textos deste escritor.

Nenhum comentário: