sábado, outubro 30, 2004

Sobre a Arte

(...) Pois a natureza também é bela quando não a compreendemos e quando nos parece caótica. Uma vez curados da ilusão de imaginar que o artista cria por razões de beleza; uma vez que se tenha compreendido que somente a necessidade de criar o obriga a produzir o que depois talvez designaremos como beleza, então compreende-se que a inteligibilidade e a clareza não são condições que o artista necessita exigir da obra de arte, mas condições que o espectador espera ver satisfeitas. Nas obras conhecidas há tempos, como todas as obras mestras do passado, mesmo o espectador inexperiente encontra tais condições: porque teve tempo de adaptar-se. Todavia, quando se trata de obras novas, estranhas a princípio, é necessário dar-lhe tempo. Contudo, apesar de a distância entre a intuição precursora e clarividente do gênio e os seus contemporâneos ser muito grande em termos relativos, é, porém, em termos absolutos, muito pequena em relação ao desenvolvimento do espírito humano, e, finalmente, surge uma ligação que aproxima o que outrora era incompreensível. Quando se compreende, buscam-se as razões, encontra-se a ordem, percebe-se a clareza. Que algo ali se encontra não em virtude de uma lei ou de uma necessidade, mas por acaso. E o que queremos ter por leis são, talvez, apenas leis que governam nossa percepção, mas não leis que a obra de arte tenha que cumprir. (...)


Harmonia, de Arnold Schöenberg

Um comentário:

voidy numbness disse...

"o caos tem leis que ainda não podemos compreender"
Einstein
(acho q era algo assim a frase, talvez tenha erros)

é por isso que o tempo é que dá o "valor" (não no sentido monetário da coisa) à obra (seja de artes visuais, música, etc..)